domingo, 24 de outubro de 2010

Sinto-me como alguém prestes a entrar num palco e recitar uma poesia,

cantar uma música,

tocar um instrumento,

contar uma piada,

ou ficar muda de vergonha.

Como um ato-solo. Preparei-me tanto para este dia e aqui estou com as mãos suadas, o rosto vermelho de vergonha, o coração quase parado ou batucando... Nem consigo senti-lo propriamente.

Pensei numa música para a abertura, uma que me acalmasse, ou ao contrário, me empurrasse de vez à frente das cortinas.

Quando era adolescente, preferia ficar em casa lendo a ir à praia ou passear. Minha mãe chegava a telefonar às minhas amigas para que elas me convidassem a sair. Como se eu estivesse fazendo alguma coisa errada, me drogando ou ficando maluca.

Talvez quem abra o site ache que coloquei a galeria dos escritores como uma vaidade inútil. Mas a literatura sempre foi a minha primeira referência, a realidade última. A verdadeira intimidade é com as palavras.

Devo aos escritores toda a graça, leveza e alegria da minha vida. A minha compreensão e compaixão pelas pessoas aumentou com a sua leitura. A abertura do meu pensamento, a eles. A realidade - li em suas histórias: a luz de um entendimento que é único, determinante, abrangente e detalhado como um bordado de delicados pontos. Minha vida sem a Literatura seria vazia, sem graça, sem cor ou consistência.

É a minha pequena homenagem.

Eles estão dentro de mim, correm em meu sangue, passeiam pelo meu pensamento. Não há como me separar de todos eles, mesmo os que ainda não estão aqui.

São como meus amantes. Fiéis. Necessários. Imortais.